quarta-feira, 29 de maio de 2013

Eleição De Diretores: Limites Na Implantação Da Gestão Democrática

Existem inúmeros questionamentos sobre a democratização educacional através da eleição de diretores. Primeiramente, porque a gestão democrática apresenta três aspectos: o acesso à escola, o processo pedagógico e o processo administrativo. No acesso à escola, são criados mecanismos para criação e ampliação das unidades escolares, garantindo um espaço escolar para todos os cidadãos, pois "os órgãos oficiais entendem a democratização do ensino como a facilidade de acesso à escola pelas camadas mais pobres da população." (HORA, 2005, p. 35). Isso, no entanto, não garante a democracia educacional, já que outros fatores estão implicitamente ligados a este aspecto: salários dignos aos professores e melhoria da condição de trabalho, não apenas referente ao uso de novas tecnologias, mas de uma nova maneira de pensar o trabalho educativo. Quanto ao processo pedagógico, o objetivo é a permanência do educando na Unidade através da "ampliação de oportunidades educacionais" (HORA, 2005, p. 35), além de representar uma das maiores preocupações dos educadores. No processo administrativo, a democratização é mais complexa, pois há visão intrínseca de o gestor escolar tem direito de decisão suprema, não necessitando ouvir os demais segmentos, o que demonstra a interpretação errônea das leis vigentes. A democratização só pode ocorrer "através da participação de professores e pais nas decisões tomadas, eleição para cargos diretivos, assembleias e eliminação das vias burocráticas" (HORA, 2005, p. 35).
Portanto, a gestão democrática não pode por si só ser representada pelo diretor escolar; ele envolve toda a comunidade e sua participação no ambiente educacional. Depois, para efetivamente ser uma instituição democrática, a escola precisa garantir a seu aluno o acesso ao conhecimento, seja ele proveniente de classe pobre ou detentora de posses. 
No mesmo sentido, não podemos pensar que a gestão democrática da escola possa resolver todos os problemas de um estabelecimento de ensino ou da educação, mas a sua implementação é, hoje, uma exigência da própria sociedade, que a enxerga como um dos possíveis caminhos para a democratização do poder na escola e na própria sociedade [...] (GADOTTI; ROMÃO, 2003, p. 92 )
Certamente, a implantação de eleições diretas de diretores busca superar a indicação de diretores e colaborar para a concretização da gestão democrática, apesar de não poder garantir que o clientelismo deixe de existir, pois este consegue mudar sua roupagem e se fazer presente até mesmo no ambiente escolar, seja nas eleições, seja durante o mandato do diretor. Essa prática se fortalece quando se formam grupos de apoio a determinado candidato, que visam a obter vantagens com o candidato eleito, demonstrando a formação tradicionalista ainda arraigada nas pessoas envolvidas no processo.
Outro fator importante é que a postura dos diretores eleitos, oriundos de um modelo tradicional de gerir, não mudou a realidade da escola; a relação diretor-professor não teve grandes avanços; muitos diretores permaneceram autoritários e mantiveram uma atitude distante dos segmentos escolares, as reclamações do diretor de que os professores eram pouco participativos também aumentou. Ainda há muita coisa para mudar, especialmente o autoritarismo do diretor, porque ainda não houve uma mudança para promover a democracia. O medo do novo e da descentralização das decisões no processo educativo travou a democratização e prejudicou as relações de trabalho.
Conforme analisado por Paro (2003, p. 130), "a aspiração de que com a introdução da eleição, as relações na escola se dariam de forma harmoniosa e de que as práticas clientelistas desapareceriam, mostrou-se ingênua e irrealista, posto que a eleição de diretores, como todo instrumento de democracia, não garante o desaparecimento de conflitos. Constitui apenas uma forma de permitir que eles venham à tona e estejam ao alcance da ação de pessoas e grupos para resolvê-los".
Ademais, muitos diretores eleitos sofrem  pressões do grupo que o elegeu, porque este considera ter direitos por tê-lo feito representante da escola e "procuram tirar proveito da situação, buscando favorecimento ao grupo dos docentes em troca de seu apoio a determinado candidato" (PARO, 2003, p. 381). Isso é resultado do processo histórico brasileiro, em que as pessoas não estão habituadas à participação e ao compromisso social. Porque da mesma forma que uma gestão democrática abre espaço ao diálogo, à decisão coletiva, exige ação dos envolvidos. Professores e direção devem caminhar juntos para agirem em favor da qualidade da educação. Por isso é que a eleição não garante que a democracia se efetive na escola; de nada adianta exercer uma democracia do "faz de conta", se dizendo democrático e passando a sua função de agente de mudanças a outras pessoas.

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