Existem inúmeros questionamentos sobre a
democratização educacional através da eleição de diretores. Primeiramente,
porque a gestão democrática apresenta três aspectos: o acesso à escola, o processo
pedagógico e o processo administrativo. No acesso à escola, são criados
mecanismos para criação e ampliação das unidades escolares, garantindo um
espaço escolar para todos os cidadãos, pois "os órgãos oficiais entendem a
democratização do ensino como a facilidade de acesso à escola pelas camadas
mais pobres da população." (HORA, 2005, p. 35). Isso, no entanto, não
garante a democracia educacional, já que outros fatores estão implicitamente
ligados a este aspecto: salários dignos aos professores e melhoria da condição
de trabalho, não apenas referente ao uso de novas tecnologias, mas de uma nova
maneira de pensar o trabalho educativo. Quanto ao processo pedagógico, o
objetivo é a permanência do educando na Unidade através da "ampliação de
oportunidades educacionais" (HORA, 2005, p. 35), além de representar uma
das maiores preocupações dos educadores. No processo administrativo, a
democratização é mais complexa, pois há visão intrínseca de o gestor escolar
tem direito de decisão suprema, não necessitando ouvir os demais segmentos, o
que demonstra a interpretação errônea das leis vigentes. A democratização só
pode ocorrer "através da participação de professores e pais nas decisões
tomadas, eleição para cargos diretivos, assembleias e eliminação das vias burocráticas"
(HORA, 2005, p. 35).
Portanto, a gestão
democrática não pode por si só ser representada pelo diretor escolar; ele
envolve toda a comunidade e sua participação no ambiente educacional. Depois,
para efetivamente ser uma instituição democrática, a escola precisa garantir a
seu aluno o acesso ao conhecimento, seja ele proveniente de classe pobre ou
detentora de posses.
No mesmo sentido,
não podemos pensar que a gestão democrática da escola possa resolver todos os
problemas de um estabelecimento de ensino ou da educação, mas a sua
implementação é, hoje, uma exigência da própria sociedade, que a enxerga como
um dos possíveis caminhos para a democratização do poder na escola e na própria
sociedade [...] (GADOTTI; ROMÃO, 2003, p. 92 )
Certamente, a implantação
de eleições diretas de diretores busca superar a indicação de diretores e
colaborar para a concretização da gestão democrática, apesar de não poder
garantir que o clientelismo deixe de existir, pois este consegue mudar sua
roupagem e se fazer presente até mesmo no ambiente escolar, seja nas eleições,
seja durante o mandato do diretor. Essa prática se fortalece quando se formam
grupos de apoio a determinado candidato, que visam a obter vantagens com o
candidato eleito, demonstrando a formação tradicionalista ainda arraigada nas
pessoas envolvidas no processo.
Outro fator
importante é que a postura dos diretores eleitos, oriundos de um modelo
tradicional de gerir, não mudou a realidade da escola; a relação
diretor-professor não teve grandes avanços; muitos diretores permaneceram
autoritários e mantiveram uma atitude distante dos segmentos escolares, as
reclamações do diretor de que os professores eram pouco participativos também
aumentou. Ainda há muita coisa para mudar, especialmente o autoritarismo do
diretor, porque ainda não houve uma mudança para promover a democracia. O medo
do novo e da descentralização das decisões no processo educativo travou a
democratização e prejudicou as relações de trabalho.
Conforme analisado
por Paro (2003, p. 130), "a aspiração de que com a introdução da eleição,
as relações na escola se dariam de forma harmoniosa e de que as práticas
clientelistas desapareceriam, mostrou-se ingênua e irrealista, posto que a
eleição de diretores, como todo instrumento de democracia, não garante o
desaparecimento de conflitos. Constitui apenas uma forma de permitir que eles
venham à tona e estejam ao alcance da ação de pessoas e grupos para
resolvê-los".
Ademais, muitos
diretores eleitos sofrem pressões do
grupo que o elegeu, porque este considera ter direitos por tê-lo feito
representante da escola e "procuram tirar proveito da situação, buscando
favorecimento ao grupo dos docentes em troca de seu apoio a determinado
candidato" (PARO, 2003, p. 381). Isso é resultado do processo histórico brasileiro,
em que as pessoas não estão habituadas à participação e ao compromisso social.
Porque da mesma forma que uma gestão democrática abre espaço ao diálogo, à
decisão coletiva, exige ação dos envolvidos. Professores e direção devem
caminhar juntos para agirem em favor da qualidade da educação. Por isso é que a
eleição não garante que a democracia se efetive na escola; de nada adianta
exercer uma democracia do "faz de conta", se dizendo democrático e
passando a sua função de agente de mudanças a outras pessoas.
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